HISTORIA DA ASSEMBLEIA DE DEUS EM CANAVIEIRAS


Nossa História na Bahia




Outros missionários chegaram ao Brasil. Entre eles estava Otto Nelson, fundador da Assembléia de Deus no Estado da Bahia. O missionário Nelson chegou em Belém no dia 25 de outubro de 1914, recém-casado com Adina Patterson Nelson, disposto a aprender a língua portuguesa - o que conseguiu em pouco tempo -, indo para Alagoas, Bahia e Rio de Janeiro com o objetivo de pregar o Evangelho. Enviado pelo missionário Gunnar Vingren, o casal Nelson chegou em Maceió (AL) no dia 25 de agosto de 1915, fundando a Igreja Assembléia de Deus com apenas sete pessoas. Em 1918 foram a Recife (PE) e efetuaram o batismo nas águas de três novos irmãos, identificando-se cada vez mais com o povo nordestino e enchendo-se de compaixão pelas almas perdidas.
Do Pará à Bahia
Bem antes de 1924, a irmã Joaquina Carvalho e seu marido José Clodoaldo, crentes batistas, foram perseguidos por homens sem o temor de Deus, na região do rio Salsa, na localidade conhecida como “Os Correia”, onde residiam todos os parentes da irmã Joaquina. Os homens amarraram o irmão Clodoaldo em um mourão e junto a ele fizeram uma grande fogueira. Em meio às chamas, ele clamava: “Ó Jesus! Ó Jesus!”, e o Senhor o ouviu, enviando pessoas em seu socorro. Desgostoso com o que ocorrera, José Clodoaldo resolveu mudar para o Pará, com a esposa. Ela deixou em “Os Correia” seus irmãos Manoel, João, Rita (Ritinha), Inês e Maria Paulina Mendes - casada com o português Cristóvão Gomes (avós do irmão Eliezer Gomes, presbítero da Igreja de Canavieiras por muitos anos e um dos primeiros na Bahia a receber o batismo com o Espírito Santo).
Mais tarde, já no Pará, o casal aceita o Pentecostes que ali estava sendo pregado pelos missionários Vingren e Berg. Batizada com o Espírito Santo, a irmã Joaquina começou a pedir insistentemente a Deus que lhe desse condições de voltar à Bahia para pregar a mensagem pentecostal aos parentes. Uma vez o Senhor lhe mostrou, numa visão, um caminho todo cheio de pedras e ela ouviu uma voz que dizia: “O que vais fazer no Egito?” Assim, ela entendeu que ainda não era chegada a hora da sua viagem. Tempos depois o Senhor lhe mostrou o mesmo caminho, mas desta vez ele estava tão límpido que parecia ter sido varrido especialmente para que ela passasse. A irmã entendeu, então, que era chegada a hora. Ela aproveitou uma estada do missionário Otto Nelson em Belém e, com ele, trouxe a mensagem pentecostal aos parentes na Bahia.
Chegando em Canavieiras, Joaquina e Otto dirigiram-se a “Os Correia”, onde moravam os parentes da irmã. A mensagem foi bem recebida e creram nela Vitória, Edvirgens, Isidoro (mais a esposa e uma filha), e Rita e Inês Mendes, casada com Antônio Correia. Este foi o maior perseguidor da obra no início, inclusive fechando a congregação de “Os Correia” onde se reuniam os irmãos que haviam crido na mensagem pentecostal, e enxotando o pequeno grupo para fora da fazenda. Conta-se que um irmão teve uma visão na qual alguém puxava uma interminável corda de fumo por detrás de Satanás, e nunca terminava de puxar. Também é dito que Antônio Correia morreu muito magro, comendo barro e fumo de corda. A mãe reclamava, mas não adiantava nada: ele continuava a comer barro e fumo, em cumprimento à visão do fumo tirado de Satanás.



A mensagem é bem recebida
De “Os Correia” Joaquina e Otto Nelson desceram até Boca do Córrego, um povoado na margem esquerda do rio Jequitinhonha, município de Belmonte. Lá, outras pessoas também creram na mensagem e receberam o batismo com o Espírito Santo, entre elas José Feliciano de Santana e Maria Feliciana de Jesus (pais de Teodoro Santana), Rosa Damasceno (futura esposa de Teodoro), Adonília Ramos e o irmão Jerônimo, filho de Rita Mendes.
De Boca do Córrego subiram à fazenda Genebra onde, na época, moravam o irmão Purcino Gomes e sua esposa Maria Paulina (crentes batistas e pais do irmão Eliezer Gomes). A fazenda Genebra era uma pequena gleba de terras comprada pelo irmão Purcino de uma sesmaria de mesmo nome, propriedade de um imigrante estrangeiro, George Müller, e administrada por Louis Félix Larchert. Este era filho do francês Félix Larchert, que tinha uma serraria e vendia madeira na região. Um dia, ao descer com uma carga de madeira para Canavieiras, adoeceu subitamente, morrendo naquela cidade e sendo ali enterrado. Sua esposa, Felismina Loureiro, desgostosa, mudou-se para o Rio de Janeiro levando consigo o filho, Louis Félix Larchert, e nunca mais se soube notícias deles. Um dos descendentes de Felismina era Ariano Loureiro (já falecido), fazendeiro na região de Poxim, em Canavieiras. Outro filho de Felismina, João Félix Larchert, ficou na fazenda Genebra. Ele e os filhos Diocleta, Maria, Gervalina e Zózimo Larchert eram presbiterianos. Maria e Gervalina casaram com filhos do irmão Purcino Gomes: a primeira com Domingos Mendes, e a segunda com Eliezer Gomes. Diocleta morreu centenária e sem aceitar o Pentecostes. Zózimo aceitou, porém mais tarde aderiu ao movimento chamado “A Restauração”, no qual permaneceu até à morte.
Quando Otto Nelson começou a pregar enfrentou muita resistência. A irmã Adonília Ramos diz que o missionário Nelson iniciava a mensagem geralmente falando em línguas e, no quarto da casa, os filhos do irmão Purcino - que eram batistas - faziam barulho e zombavam da pregação. Uma vez, quando necessitou ir a Boca do Córrego comprar víveres, em vez de colocarem uma sela no animal puseram uma cangalha (um assento mais rústico e duro), a fim de humilhar o missionário. Mas, após ouvirem a mensagem, creram e receberam o batismo com o Espírito Santo: Maria Paulina de Carvalho, Maria Ramos, José Ramos, Eliezer Gomes de Carvalho, Maria da Pena e Baldoína Carvalho. Mais tarde, Joaquina Carvalho e Otto Nelson foram para Salvador e, em seguida, Belém, onde a irmã morava, e nunca mais ela apareceu na Bahia. Mas a semente lançada por Joaquina germinou, fazendo surgir um vasto campo que perdura até os dias atuais, produzindo mais e mais frutos, pelos quais ela receberá galardões na eternidade.
No final de 1926 já havia 20 irmãos batizados com o Espírito Santo e Otto Nelson não perdeu tempo, logo enviando o pastor João Pedro da Silva, fiel companheiro, que serviu como obreiro itinerante nos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia. Nesse mesmo ano chegou em Canavieiras para tomar conta dos trabalhos na nova comunidade pentecostal e realizar os primeiros batismos, em 1927. Esta boa notícia foi levada até Otto que, movendo o coração para a Bahia, manteve o pastor João Pedro em várias viagens pelo interior, chegando até a realizar vários cultos em Salvador, embora não conste em nenhum registro a conversão de alguém. O pastor João Pedro ainda ficou algum tempo por aqui, indo algumas vezes à fazenda Genebra e, de 1928 a 1929, permaneceu na Ribeira (BA), povoado distante um dia de viagem de Salto Grande, hoje Salto da Divisa, em Minas Gerais. Certa vez o pastor João Pedro contou aos irmãos que a Ribeira não lhe era estranha pois, quando ainda estava em sua terra, por muitas vezes contemplara aqueles casebres cobertos com cascas de árvores e até um pomar que ali existia, em visões. Mais tarde, quando ali chegou, reconheceu prontamente o lugar. Em 1930 o pastor João Pedro partiu definitivamente para Vitória (ES), sendo o primeiro pastor a visitar o trabalho que, havia pouco tempo, tinha sido iniciado ali. Na Bahia, uma irmã teve uma visão na qual um anjo carregava um enorme peixe. Entendeu que o irmão João Pedro iria passar para o Senhor, o que aconteceu em Vitória.